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Segundo economista, Brasil precisa se aproximar dos empresários americanos
Segundo Feldmann, principais prejudicados pela tarifa de importação de 50% dos Estados Unidos serão os próprios empresários americanos
Conversamos com Paulo Feldmann sobre a questão tarifária envolvendo Brasil e Estados Unidos. Feldman é economista e professor da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo).
Caso não haja uma negociação entre os dois países ou uma prorrogação de prazo por parte dos Estados Unidos, a tarifa de importação adicional de 50% sobre produtos brasileiros entrará em vigor no dia 1º de agosto, sexta-feira da próxima semana.
Qual a sua avaliação sobre o desenrolar da questão tarifária envolvendo Brasil e Estados Unidos?
Aparentemente, o presidente Donald Trump vem sendo mal assessorado pela sua equipe econômica, pois ele já deveria ter sido alertado que as super tarifas vão aumentar os preços dos produtos dentro dos Estados Unidos. Além disso, os Estados Unidos vão ter que trocar boa parte dos seus fornecedores brasileiros, pois eles terão muitas dificuldades para colocar os seus produtos no mercado americano com uma tarifa de importação adicional de 50%. O problema é que os novos fornecedores não vão ser mais baratos que os brasileiros, que são muito competitivos, principalmente no setor agropecuário.
Muitas pessoas, que conhecem o presidente Trump, acham que ele está blefando para poder negociar, o que já aconteceu com outros países. O problema é que mesmo que se chegue a uma tarifa de 20%, 30%, os produtos brasileiros deixarão de ser competitivos. Cabe ressaltar que, como o setor agropecuário foi pego de surpresa, e os seus produtos precisam de um tempo de maturação, se essa tarifa entrar em vigor, o segundo semestre estará perdido. É por isso que o agro deveria aproveitar esse período para buscar novos mercados, da mesma forma que a mineração brasileira, que também é competitiva, principalmente em minério de ferro.
O problema é que, mesmo que se chegue a uma negociação interessante, nós já tivemos um grande impacto na nossa economia, pois as empresas suspenderam investimentos e o dólar se valorizou, e pode se valorizar ainda mais dependendo do resultado da negociação, sendo que com a desvalorização do real, os produtos importados, principalmente os produtos industriais manufaturados, ficam mais caros.
Como essa será uma negociação difícil, já que Trump possui uma série de restrições políticas ao Brasil, eu não consigo ver um bom cenário para os dois países. O ano vai terminar mal, com inflação crescente e desemprego aumentando. Como Trump ainda tem três anos de mandato, talvez ele consiga fazer algo para melhorar a situação dos Estados Unidos, apesar de não poder concorrer à reeleição, mas no caso do presidente Lula, que concorrerá à reeleição em 2026, uma economia muito ruim pode ser um sério problema.
Com o início da aplicação da tarifa de importação adicional previsto para 1º de agosto, como você tem visto a condução desse assunto por parte do governo brasileiro?
Em um primeiro momento, o presidente Lula falou em retaliação, mas o governo já mudou o discurso. Por exemplo, essa é uma palavra que nunca foi utilizada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, pois ela poderia estimular o presidente Trump a tomar medidas ainda mais duras. Diga-se de passagem, a escolha do vice-presidente Alckmin para liderar essa negociação foi muito boa, pois ele é uma pessoa bastante ponderada, sensata e pouco emocional, além de possuir um trânsito muito bom entre os empresários, principalmente os paulistas, cujo estado será o mais afetado. Isso porque, além de São Paulo ser responsável por quase 50% das exportações para os Estados Unidos, a Embraer fica no Estado.
Um ponto importante é que estamos lidando com Trump, que não é uma pessoa convencional. É por isso que nós temos que esperar tudo, inclusive a tarifa adicional de 50%, o que seria uma desmoralização para os negociadores brasileiros, mas acredito que esse cenário seja pouco provável. O mais provável é que tenhamos uma tarifa entre 25% e 30%, sendo que esse cenário não é bom para os produtos agropecuários e para os produtos industriais, principalmente.
O que não podemos nos esquecer é que o Brasil foi o único país onde Trump colocou uma questão política na negociação: a situação do ex-presidente Jair Bolsonaro. É por isso que fica muito difícil fazer uma previsão. Independente disso, como os empresários norte-americanos serão os maiores prejudicados, eu acredito que eles vão fazer lobby junto ao presidente americano para que ele não crie dificuldades para o Brasil.
Se a balança é levemente superavitária para os Estados Unidos, o que incomoda os americanos na relação comercial com o Brasil?
O que está por trás de toda essa negociação é a situação do ex-presidente Bolsonaro. Repare que Trump não ataca Lula, e sim o ministro Alexandre de Moraes. Como Trump quer aumentar o bloco de países de direita, para ele é importante ter Bolsonaro no poder. Inclusive, essa questão pode fazer com que Trump tome medidas completamente irracionais.
O Brasil é um país fechado a produtos estrangeiros?
Nos últimos anos, as taxas de importação foram reduzidas de forma gradativa. Atualmente, elas estão um pouco acima da média da OCDE. Ainda há espaço para baixá-las, mas eu não creio que o Brasil possa ser considerado fechado para importações por conta disso. Apesar dos pesares, o país possui um grande volume de importações, principalmente de produtos industrializados. Veja o volume de vendas da China para o Brasil. É por isso que eu não concordo com essa afirmação de que o Brasil é fechado.
Eventualmente, o Brasil fecha alguns segmentos por um tempo para proteger a indústria local, da mesma forma como fez com sucesso entre as décadas de 1950 e 1980, mas, de uma forma geral, as tarifas brasileiras de importação vêm sendo reduzidas. Para que o Brasil fosse mais competitivo, seria preciso resolver os problemas do seu ambiente de negócios, já que a energia elétrica e o transporte são muito caros, a mão de obra é pouco qualificada e a carga tributária é muito alta. Se todas essas questões fossem resolvidas, nós seríamos mais competitivos e importaríamos menos.
Além da crítica de que o Brasil é fechado ser infundada, ela é feita por quem quer forçar o país a abrir o mercado justamente para que possa colocar os seus produtos aqui.
O que o Brasil pode fazer para resolver essa situação?
Por causa do componente político, essa é uma questão dificílima de ser resolvida, mas nós temos que lembrar que os principais prejudicados por essa tarifa de importação adicional de 50% serão os empresários americanos. Os empresários brasileiros deveriam procurá-los o quanto antes para combinar uma estratégia comum, principalmente os empresários brasileiros do setor agropecuário.
Veja o exemplo do suco de laranja. As empresas brasileiras vendem suco de laranja in natura para as empresas americanas, que embalam, colocam uma marca e vendem para os supermercados americanos. Com isso, elas ganham mais dinheiro do que as próprias empresas brasileiras, que vendem o suco in natura. Vale comentar que isso é uma grande incompetência da nossa parte. Como essas empresas americanas não vão conseguir comprar o suco de laranja in natura das empresas brasileiras, elas vão quebrar.
Como isso também vai acontecer em vários outros segmentos, o Brasil precisa se aproximar dos empresários americanos, tanto no caso da agropecuária quanto da manufatura. Contudo, por mais que essa seja a principal recomendação, nós não temos muito tempo para isso. Outro ponto é evitar o conflito para não fechar a porta de uma vez.
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